quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Mandiquera e seu exemplo

Sou apaixonada por fazer matérias em prédios históricos, ricos em informações e curiosidades. Com isso, virei fã de carteirinha do município de Quissamã, que respira e transpira cultura e preservação.
O Solar da Mandiquera é um exemplo do cuidado que o poder público tem em preservar o patrimônio da cidade. Mas é só um dos exemplos, existem vários.
"O Solar da Mandiquera, em Quissamã, chama a atenção não só pelo luxo e beleza, mas também pelas histórias que guarda em cada pintura, cada canto desta casa de 26 cômodos e 42 janelas."
O casarão que foi cenário para de dois filmes - Tanga e O coronel e o Lobisomem - está em estado precário, mas desde o início do ano começou a receber uma reforma e também será restaurado. Um processo que vai levar cerca de 5 anos. São muitos os detalhes.
"A casa de Mandiquera foi construída no século XIX, de 1871 a 1875 e é considerada a construção rural mais luxuosa da época revelando toda a imponência do Brasil Imperial. Pertencia a Bento Carneiro da Silva, filho do Visconde de Araruama, o homem mais poderoso dos engenhos de cana de açúcar."
Peças antigas estão sendo recuperadas e cada canto da casa revela os costumes e a cultura de uma época. Uma das coisas que mais me impressionou no Solar foram as pinturas na parede. Perfeitas, lindas, intocáveis pelo tempo, algumas ainda com riscos de lápis.
"O solar da Mandiquera foi construído com uma arquitetura baseada no Petit Trianon, em Paris. Todo o material utilizado, principalmente de decoração, tem origem estrangeira."
Parece meio neurótico, mas´dentro do casarão é possível sentir o cheiro, o clima e imaginar - numa espécie de viagem mesmo - tudo o que acontecia naqueles corredores, nas salas, nos porões...
"Agora a gente vai entrar no porão de serviço, que tem ligação direta com a cozinha. Acredita-se que neste compartimento aqui era onde ficavam os mantimentos da casa e, neste outro, onde os escravos comiam e descansavam.”
Tomar banho, ir ao banheiro, tudo era feito no porão e isso inclui a rotina dos nobres. É no porão também que ficava um sistema de drenagem.
"É impressionante! O sistema de drenagem mostra as habilidades de um século em que nem se pensava em tecnologia. A banheira e o mictório também estão lá, intactos. Aos poucos a história da Mandiquera vai sendo remontada como um quebra-cabeça revelando histórias, modos de vida e uma riqueza de valor inestimável."

Foi uma matéria especial. Com belíssimas imagens de Edmilson Manhães e uma edição impecável de Paulo Marques.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O Porto de Ilusões

A matéria sobre o Porto do Açu foi sugerida por nosso diretor Maurício Nani. A idéia era mostrar toda a obra que está sendo realizada, o que é este porto, qual a sua função e os impactos que ele irá gerar na economia, no meio ambiente e na sociedade. Um raio-x.

Quando cheguei na área do porto o que mais me impressionou foi a imensidão da obra. É gigantesca mesmo! Havia estado lá há um ano atrás quando ainda estavam arrancando as cercas de arame farpado.

Hoje o canteiro de obras com mais de 1000 pessoas trabalhando é de impressionar. Mas ao terminar esta matéria pudemos constatar que são poucas as pessoas que entendem realmente o que está e o que irá acontecer.

O porto do Açu é uma fábrica de muitas ilusões e ainda não estou certa se os reflexos positivos serão maiores que os negativos.

"Um município de tradição agrícola que vive no momento uma revolução econômica e social. São João da Barra recebe um dos maiores empreendimentos do país. O Complexo Logístico e Portuário do Açu está avaliado em (arte) 6 bilhões de reais e trata-se do maior investimento privado em terminal marítimo da história recente".

Fomos muito bem recebidos pela equipe da MMX / LLX. Pessoas que realmente entendem o que estão fazendo, profissionais altamente capacitados. Estivemos lá duas vezes e mais uma em São João da Barra e tivemos que fazer outras sonoras em Campos. Acho que fiquei uns três dias para decupar e escrever o texto.

"Este tipo de investimento aumenta o número de emprego, melhora o padrão de vida da população e proporciona o crescimento econômico da região. O município de São João da Barra vai pular dos atuais (abre arte) 29 mil habitantes para 100 mil, em cinco anos".

É incrível pensar nas coisas grandiosas que o homem é capaz de contruir. Na Usina de Concreto instalada no local são utilizadas quantidades inimagináveis de areia, cimento, água, etc. Um dos pontos mais ousados é a construção da ponte que irá transportar os materiais até o pier de atracação dos navios. Ela terá 27m de largura, 500m de extensão em terra e 2km na água.

"Na beira mar engenheiros, topógrafos e especialistas analisam cada detalhe desta mega obra. A ponte será mais larga que a Rio-Niterói e deverá ter uma capacidade máxima de pelo menos 400 toneladas".

A comunidade local corre atrás de cursos de qualificação, 150 caminhoneiros fazem de 2 a 3 viagens por dia, empresários começam a perceber que é preciso investir no setor de serviços como hotéis, restaurantes, postos de gasolina, etc. Só que as necessidades de hoje não serão mais as mesmas no futuro, serão diferentes e quem não se preparar vai apenas observar o trem passar.

"Na fase de operação do porto os empregos gerados serão a metade dos que estão sendo oferecidos agora. (abre arte) Estima-se 700 diretos e 1800 indiretos (fecha arte). E o que fazer com este contingente populacional atraído para a região em busca de uma oportunidade que não virá?"

Criminalidade, prostituição, uma nova Macaé é o que temem os especialistas. Todos falam deste mega empreendimento, mas poucos discutem os impactos sociais e ambientais que já começaram. E quanto isso vai custar para a região, quem vai pagar a conta? É esta a pergunta do ambientalista Felipe Muniz, que muito contribuiu com esta matéria.

"Na área do porto, o solo foi elevado em 2 metros e meio. Para isso cerca de 100 hectares foram cavados formando estes enormes buracos chamados de áreas de empréstimo (Fita 1: 2:04:00:00). Para tapar estas áreas uma draga chinesa como esta (foto) trará areia do alto mar para a terra. A draga vai retirar do mar cerca de (abre arte) 6 milhões e meio de metros cúbicos de areia (fecha arte). Para construir o quebra-mar mais impactos: (arte – não temos imagens disso) 2 milhões e 800 mil metros cúbicos de pedra serão trazidos de Ibitioca para o Açu. São cerca de 7 milhões de toneladas de pedras que precisarão de cerca de 700 mil caminhões para serem transportadas".
P.S.: Todos estes caminhões passando pela BR 101, por dentro de Campos e pela BR 356, já extremamente desgastadas.
"O trauma é a obscuridade", diz Felipe, que cobra a participação dos órgãos responsáveis na fiscalização e na cobrança das compensações sócio-ambientais. O cenário regional vai mudar definitivamente e se não houver um planejamento entraremos em um verdadeiro caos.
“Precisamos de pessoas que pensem porque só se fala do sucesso desta obra e os problemas que ela vai trazer?", diz Felipe.