quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O Porto de Ilusões

A matéria sobre o Porto do Açu foi sugerida por nosso diretor Maurício Nani. A idéia era mostrar toda a obra que está sendo realizada, o que é este porto, qual a sua função e os impactos que ele irá gerar na economia, no meio ambiente e na sociedade. Um raio-x.

Quando cheguei na área do porto o que mais me impressionou foi a imensidão da obra. É gigantesca mesmo! Havia estado lá há um ano atrás quando ainda estavam arrancando as cercas de arame farpado.

Hoje o canteiro de obras com mais de 1000 pessoas trabalhando é de impressionar. Mas ao terminar esta matéria pudemos constatar que são poucas as pessoas que entendem realmente o que está e o que irá acontecer.

O porto do Açu é uma fábrica de muitas ilusões e ainda não estou certa se os reflexos positivos serão maiores que os negativos.

"Um município de tradição agrícola que vive no momento uma revolução econômica e social. São João da Barra recebe um dos maiores empreendimentos do país. O Complexo Logístico e Portuário do Açu está avaliado em (arte) 6 bilhões de reais e trata-se do maior investimento privado em terminal marítimo da história recente".

Fomos muito bem recebidos pela equipe da MMX / LLX. Pessoas que realmente entendem o que estão fazendo, profissionais altamente capacitados. Estivemos lá duas vezes e mais uma em São João da Barra e tivemos que fazer outras sonoras em Campos. Acho que fiquei uns três dias para decupar e escrever o texto.

"Este tipo de investimento aumenta o número de emprego, melhora o padrão de vida da população e proporciona o crescimento econômico da região. O município de São João da Barra vai pular dos atuais (abre arte) 29 mil habitantes para 100 mil, em cinco anos".

É incrível pensar nas coisas grandiosas que o homem é capaz de contruir. Na Usina de Concreto instalada no local são utilizadas quantidades inimagináveis de areia, cimento, água, etc. Um dos pontos mais ousados é a construção da ponte que irá transportar os materiais até o pier de atracação dos navios. Ela terá 27m de largura, 500m de extensão em terra e 2km na água.

"Na beira mar engenheiros, topógrafos e especialistas analisam cada detalhe desta mega obra. A ponte será mais larga que a Rio-Niterói e deverá ter uma capacidade máxima de pelo menos 400 toneladas".

A comunidade local corre atrás de cursos de qualificação, 150 caminhoneiros fazem de 2 a 3 viagens por dia, empresários começam a perceber que é preciso investir no setor de serviços como hotéis, restaurantes, postos de gasolina, etc. Só que as necessidades de hoje não serão mais as mesmas no futuro, serão diferentes e quem não se preparar vai apenas observar o trem passar.

"Na fase de operação do porto os empregos gerados serão a metade dos que estão sendo oferecidos agora. (abre arte) Estima-se 700 diretos e 1800 indiretos (fecha arte). E o que fazer com este contingente populacional atraído para a região em busca de uma oportunidade que não virá?"

Criminalidade, prostituição, uma nova Macaé é o que temem os especialistas. Todos falam deste mega empreendimento, mas poucos discutem os impactos sociais e ambientais que já começaram. E quanto isso vai custar para a região, quem vai pagar a conta? É esta a pergunta do ambientalista Felipe Muniz, que muito contribuiu com esta matéria.

"Na área do porto, o solo foi elevado em 2 metros e meio. Para isso cerca de 100 hectares foram cavados formando estes enormes buracos chamados de áreas de empréstimo (Fita 1: 2:04:00:00). Para tapar estas áreas uma draga chinesa como esta (foto) trará areia do alto mar para a terra. A draga vai retirar do mar cerca de (abre arte) 6 milhões e meio de metros cúbicos de areia (fecha arte). Para construir o quebra-mar mais impactos: (arte – não temos imagens disso) 2 milhões e 800 mil metros cúbicos de pedra serão trazidos de Ibitioca para o Açu. São cerca de 7 milhões de toneladas de pedras que precisarão de cerca de 700 mil caminhões para serem transportadas".
P.S.: Todos estes caminhões passando pela BR 101, por dentro de Campos e pela BR 356, já extremamente desgastadas.
"O trauma é a obscuridade", diz Felipe, que cobra a participação dos órgãos responsáveis na fiscalização e na cobrança das compensações sócio-ambientais. O cenário regional vai mudar definitivamente e se não houver um planejamento entraremos em um verdadeiro caos.
“Precisamos de pessoas que pensem porque só se fala do sucesso desta obra e os problemas que ela vai trazer?", diz Felipe.

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